domingo, 29 de julho de 2007

VI Comemoração da Penha


Quando você for convidado pra subir no adro
da Igreja de Nossa Sra do Rosário
Pra ver do alto a fila de jovens, quase todos pretos
Mostrando aos devotos e não devotos da santa dos homens pretos,
pardos e mulatos,
e outros quase brancos
Como pretos
Mostram aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
Dialogam com as manifestações do passado
E não importa se olhos do mundo inteiro possam
estar por um momento voltados para o largo,
onde os escravos eram castigados.
E hoje um batuque, um batuque com a pureza
de meninos uniformizados,
de escolas públicas revelam
a grandeza épica de um povo em formação.
Nos atrai, nos deslumbra e estimula.
Não importa nada!
Nem a sombra da política higienista,
que quer varrer do pátio
todo João-ninguém.

Ninguém é cidadão!
Se você for ver a festa da Penha
a não ser que tenha,
outro compromisso
Pense
Reze
Aqui

No dia 15/Junho/2007 das 14h às 17h no Largo do Rosário da Penha (São Paulo) o MCP organizou um momento de vivência dos alunos da Escola Estadual Pe Antão com projetos em cultura Afro-brasileira de diferentes locais: Uh-Batuquerê (EMEF Esmeralda Sales P. Ramos – Tremembé); Grupo Folias de Reis (Maestro Wagner – Poá) e Projeto Raiz (EMEF Me. Mª Imilda do SSmo Sacrto – Itaim Pta). Além de conferir e interagir com as apresentações os alunos puderam ter uma exposição sobre a história da Irmandade e da festa do Rosário de dentro da própria Igreja. No total cerca de 300 pessoas prestigiaram mais uma intervenção pública deste mês de comemorações.

A travessia

A travessia atlântica dos negros africanos, durante séculos de tráfico escravista, foi o maior movimento migratório que o mundo conheceu. Mas ao contrário do que pretenderam aqueles que os escravizaram, eles não eram meras máquinas produtivas. E sim os rigorosos senhores de toda uma imensa riqueza humana e espiritual. Obrigados a cruzar o mar oceano em sórdidos navios negreiros, carregaram consigo o brilho dos seus saberes, das suas técnicas, dos seus símbolos. Felizmente muitos deles vieram dar em nossas latitudes tropicais. Puderam assim participar, ativa e criativamente da invenção de um país chamado Brasil. E foram tão fundo, nesta aventura construtiva, que hoje eles somos nós. Sim. Trazemos a presença de uma África centenária, milenar mesmo, em nossos códigos genéticos e simbólicos. Em nossas células e em nosso imaginário. Em nossa memória gestual e muscular. Antes que escravos passivos, os negros foram sujeitos vitais de nossa história. Inscreveram na constelação brasílica as suas cores e suas dores, os seus ritos e ritmos, candomblé e afoxés. Uma vitória espetacular. Graças a isso tornou-se possível a configuração, entre nós, de uma cultura sintética e sincrética. De uma cultura que, incorporando todos os nossos antepassados, nos defini e nos singulariza na aldeia global. E faz com que sejamos, nesse momento da peripécia histórica da humanidade, portadores de uma mensagem de alcance planetário.
Antônio Risério