segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Nossa luta é nossa festa: o corpo negro como resistência na cidade de São Paulo no passado e presente

No dia 09 de Novembro, o Centro de Documentação e Memória da UNESP promoveu o debate ancorado na pesquisa de Antonia Quintão: Irmandades Negras: Outro Espaço de Luta e Resistência (São Paulo 1870-1890). O debate contou com a presença da Profª. Dra Antonia Quintão, Zumira Gomes Leite (presidenta da Irmandade de Nossa Senhora Aparecida e  São Benedito do Lauzane Paulista) e Maria Selma Casemiro (integrante da comissão da Igreja do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França)
No presente debate, Quintão destacou que a compreensão da historicidade das Irmandades negras deve ser considerada levando em conta o seu contexto histórico e social, os quais se encontram no bojo de uma sociedade escravista, altamente hierarquizada, rígida, racista e violenta, e, diga-se de passagem, como salienta Quintão, trata-se de uma violência com endereço circunscrito aos africanos e afrodescendentes. Os últimos, de acordo com a historiadora, são concebidos pelas autoridades como desclassificados, vadios e perigosos.
Diante de tal contexto permeado de adversidades para o respectivo segmento social - a Irmandade -, de acordo com a historiadora, possuía como objetivo central a busca de dignidade para os africanos e afrodescendentes. Essa busca pode ser visualizada nos compromissos da Irmandade, tais como os que se referiam a morte, aonde percebe-se a valorização da ancestralidade através dos rituais fúnebres e orações para os irmãos, bem como as reuniões das irmandades com o objetivo de cumprir rituais para os irmãos entrarem nos espaços dos ancestrais. Outro aspecto digno de ser sublinhado, apontado por Quintão, é que nas irmandades negras, diferente da dos brancos, as mulheres negras estavam em pé de igualdade com os homens, uma vez que poderiam ocupar  cargos elevados na Irmandade, tais como a mesa administrativa.
Além da preocupação com o enterro dos Irmãos, outra ponto vital de tais irmandades, foram os festejos públicos. Eram as festas que propiciavam os recursos para as irmandades e que encantavam e atraíam pessoas para participar da irmandade, inclusive brancos. Contanto, como alertou Quintão, brancos poderiam participar da irmandade dos homens pretos, mas deveriam pagar um valor três vezes maior que o pago pelos pretos. E também não poderiam ocupar cargos de direção e coordenação da Irmandade. As festas dos pretos eram consideradas ilícitas pelo "Catolicismo Oficial", entretanto, ainda que sobre ameaças de represálias, como a excomunhão, a quantidade de pessoas na festa não diminuía. As represálias se dirigiam sobretudo as danças e presença de requebrados nessas danças. Para Quintão, essas danças e festividades da comunidade dos pretos do  Rosário, deve ser concebida na chave de resistência.
Em tais facetas a resistência também se apresenta no presente momento a partir da presença desse corpo negro simbolo e ícone de resistência e ancestralidade, como se verifica nas festividades do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França, conforme as falas de Selma e Carlos. Selma Casimiro sublinha que quando teve contato com a festa na Igreja do Rosário dos Homens Pretos conheceu as congadas, os maracatus e decidiu entrar na Pastoral. Selma é devota de São Benedito e sempre guardou café para o santo. Um momento muito importante de sua trajetória e que colaborou para o fortalecimento do seu elo com a comunidade do Rosário da Penha foi quando ela teve contato com as fotos de infância de seu marido, Carlos Casemiro, dentro da igreja do Rosário, na época em que os pais dele eram zeladores da igreja. Tal fotografia fez parte de uma exposição organizada pelo memorialista Hedemir Linguitte. 
Desde o contato com a fotografia de seu marido, ainda pequeno na igreja, Selma participa do movimento, lutando com a comunidade pela valorização e divulgação da história da Igreja do Rosário, por meio da criação da festa do Rosário.  E há 14 anos essa comunidade tornou-s parte da sua história e da sua família.
Vale ressaltar que essa é a única igreja construída em São Paulo por escravizados que não foi removida de seu local original, pelas reformas da virada do século XlX, dotadas de caráter higienista e sanitarista, que possuíam ojeriza as práticas e sociabilidades negras.
Cabe destacar que essa Igreja desde 1982 é tombada pelo Condephaat  (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) como patrimônio cultural e reúne atividades comunitárias realizadas pela comunidade do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França, entre elas, destaca-se a festa de junho de coroação dos Reis Negros, a  roda de samba que ocorre mensalmente no ultimo sábado do mês e a missa afro sempre no primeiro domingo do mês. 
Selma relata que existe um forte processo de identificação das pessoas com a missa afro. No momento aberto ao debate, Carlos Casemiro, tece comentários sobre a organização da festa pela comissão de Festas do Rosário dos Homens Pretos e sobre as dificuldades enfrentadas para a realização da festa, dentre elas, destaca as criticas de diversos setores da igreja católica às festas desenvolvidas pela comunidade. Contanto, Carlos segue confiante nessa luta comunitária afirmando: “Nossa Luta é nossa Festa!!”
Nas entrelinhas dessa afirmação ressoam as poéticas e nuances das várias formas de resistência da comunidade negra ontem e hoje, também expressas no hino do Rosario dos Homens Pretos da Penha de França:

“O sino da Igreja anunciou
O som dos atabaques vem ai...
Sou negro velho, filho de Zumbi
O Rosário dos Homens Pretos
Pode aplaudir”

Marcelo Vitale Teodoro da Silva, Mestrando no Programa de Pós Graduação em Humanidades Direitos e outras Legitimidades (DIVERSITAS: Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos)

Foto: Missa Campal de 2014, autor Patricia Freire


sexta-feira, 20 de novembro de 2015

II Mostra da Identidade e da Diversidade Cultural da Zona Leste - Polo PENHA

Neste sábado dia 21/11/2015, o Movimento Cultural Penha através do Projeto Patrimônio Cultural em Rede estará apoiando a produção da II Mostra da Identidade e da Diversidade Cultural da Zona Leste - Polo PENHA, que neste dia terá das 14h às 18h no Largo do Rosário apresentação de Samba Rock com a Banda Comitê do Soul e convidados. A Mostra ocorre nos dias 21 e 22 de novembro em vários pontos da zona leste e propõe trazer parte da produção cultural da região. Para ver a programação completa acesse: https://www.facebook.com/mostrazonaleste.



quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Digitais – Patrimônio Cultural em Rede

Vídeo realizados com alunos da ACDEM do bairro de Ermelino Matarazzo realizado pelo programa Redes e Ruas.