Neste mês de junho o bairro Penha de França, localizado na região leste do município de São Paulo, comemora o aniversário de um de seus patrimônios mais antigos: a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, é a única da cidade que guarda resquício da construção feita por negros escravos que permanece no local em que foi erguido. Faz pertinente esta ressalva, pois todas as outras construções ou foram destruídas ou deslocadas do seu local de origem, como é o caso da Igreja de N. Sra. do Rosário dos Homens Pretos situada no Largo Paissandu.
Esta construção originalmente com telhas de barro cozido e com paredes de taipa de pilão, foi fundada em 1802, após solicitação feita pela Irmandade de N. Sra. do Rosário dos Homens Pretos da Freguesia da Penha de França ao bispo de São Paulo.
A Igreja possui uma nave, galeria lateral, sacristia e capela-mor. Segundo informações da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo:
“No final do século XIX, foram construídos a torre e o frontão e data deste período, o seu estilo eclético com tendências ao classicismo. Internamente observam-se modestos retábulos e uma dependência onde eram guardados os ex-votos. Em 1920, á igreja foi acrescentado um anexo e, nos anos de 1962 e 1969, sofreu pequenas reformas” (SILVA, 2011)
Ainda hoje a estrutura da Igreja do Rosário possui detalhes antigos, como a porta principal e seu formato geral. Tombada entre maio e julho de 1982 pelo CONDEPHAAT - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo, onde traz na Resolução do Tombamento o Artigo 1º: “Fica tombado como monumento histórico e de interesse arquitetônico a Igreja do Rosário dos Homens Pretos, situada no Largo do Rosário, Bairro da Penha de França, nesta Capital, edifício religioso construído no início do século XIX e importante marco no núcleo central do bairro”.
Porém, para além da estrutura física, pensamos que aquele território guarda a memória de pessoas que resistiram com suas tradições em forma de fé, festas, cantorias, ladainhas e batuques.
A Igreja do Rosário dos Homens Pretos da Penha e seu Largo é território de parte da fé e da cultura popular que resistiu, reelaborando-se frente às transformações que a cidade vivenciou e vivencia. Nela e em seu entorno encontramos elementos do sincretismo religioso das camadas populares de São Paulo que agradecem as graças alcançadas e/ou realizam seus pedidos.
Em outras palavras, os devotos da Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e de São Benedito, bem como os que frequentam o Largo e a Igreja, reelaboram sua fé e cultura de forma individual e coletiva, alterando normatizações, leis e procedimentos impostos.
O Largo e a Igreja tornaram-se assim um território de um inventivo “mosaico cultural”, ao mesmo tempo singular e plural, assemelhando-se com manifestações existentes em outras espacialidades pelo Brasil a fora. Entretanto, este território religioso popular na Penha remete também a um passado que muitos pensavam não existir mais na cidade de São Paulo e região.
Neste ano de 2012 será realizada a 11º Festa, que traz como tema os “210 anos de Patrimônio e História”. As comemorações passaram a acontecer a partir de 2002, quando o patrimônio completou 200 anos. A Casa de Cultura da Penha, juntamente com a comunidade deram inicio às festividades e em 2007 a festa passou a fazer parte do Calendário Oficial dos festejos da cidade de São Paulo.
Durante o mês de junho acontecerá diversas atividades culturais, palestras e apresentações no Largo do Rosário e na Igreja, sendo o domingo dia 17/06, data da autorização do bispo para a construção do patrimônio, o ápice da festa deste ano, com a realização da Missa Campal com presença de Irmandades do Rosário, Pastorais Afro, grupos de Congadas, Moçambique, Folia de Reis e Maracatu do município e também do Estado de São Paulo; além da coroação do rei e rainha do Congo de 2012. Os festejos vão até o dia 30/04, quando ocorre a retirada do mastro marcando o final das comemorações.
Programação completa no blog: largodorosario.blogspot.com.
Fonte:
Recados – Memória das Relações entre a Comunidade e o Patrimônio, São Paulo: Movimento Cultural Penha, 2011.
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